terça-feira, 7 de junho de 2011

Marketing e Igreja

Comunicar não é fácil, muito pelo contrário. É muito exigente e cada vez mais há diferentes formatos e opções, acrescendo a este desafio o facto de os recetores da informação serem pessoas diversas, com diferentes referenciais e contextos.

Comunicar é, então, um exercício impossível?

Talvez não, há conceitos e abordagens que podem ajudar. Além de que temos um “trunfo” precioso. Jesus é o nosso modelo. A comunicação que Ele próprio desenvolveu não poderia ser mais eficaz. Que esperamos?

O Cristo histórico é o maior ‘marketeer’ de todos os tempos. A sua criatividade sem limites, que sabe encontrar caminhos de resposta para cada pessoa na sua situação e contextos concretos, só pode constitui para nós a máxima inspiração.

Portanto, temos assegurado um princípio sólido e esperançoso para o maior sucesso.

Observando os ainda atuais produtos da nossa oferta pastoral, alguns pontos afiguram-se como essenciais, devendo ser questionados.

Para começar, o discurso ‘disparado de cima do púlpito’, num tom formal, crispado, enfático, quase político, já não convence ninguém. Muito pelo contrário, leva muita gente a abandonar as salas, ou a nem sequer ter vontade em entrar. Quer dizer que este tipo de discurso está velho e caduco, desfasado quer na forma quer no conteúdo. As pessoas querem sentir naturalidade e proximidade. Dispõe do seu tempo para ouvir a quem se lhes dirige como se de um amigo se tratasse, escutando histórias ‘da sua rua’ e da sua vida concreta.

Outro princípio fundamental é a mudança do valor das hierarquias. Elas já não são um referencial. Não é, em definitivo, um determinado ‘posto’ que confere legitimidade a quem discursa. Isso não basta. Quem aposta em escutar uma proposta, fá-lo se entende que a pessoa que lhe fala merece respeito e credibilidade. Implica isto que a construção da imagem substantiva do comunicador é, doravante, responsável pelos resultados da ‘doutrina’. Mas também se deve ter em conta que os critérios de avaliação de quem é coerente não são os mesmos. Afinal, o respeito sério pelas opções de cada um são agora o fundamental, face à mera observância de regras.

Posto isto, outra questão essencial é reconhecer que o esforço nesta comunicação deve ser tratado de forma profissional, devendo ser tratado de forma organizada, planeada e sistemática. Na realidade, isto já começa a ser corrente, com a ajuda de quem estuda e pratica a arte da utilização destas ferramentas.

Significa olhar de frente para o marketing. E assumir com clareza e responsabilidade que esta ferramenta está ao serviço da Igreja.

O processo de marketing inicia-se, muitas das vezes, com o estudo de mercado. E, neste caso da comunicação, este passo é também essencial. Recordemos que, para transmitir a fé católica, os missionários europeus procuravam descrever, registar e compreender os usos e costumes dos povos com culturas diferentes. Precisamos estudar e conhecer com quem queremos comunicar.

E este princípio aplica-se quer estejamos a desenvolver programas e atividades para grupos quer ao nível interpessoal.

Portanto, há que iniciar o trabalho de comunicação estabelecendo critérios para perceber que diferentes grupos existem num determinado conjunto de pessoas. E as razões para diferenciar as pessoas podem começar por critérios tão objetivos e comuns como a idade, tamanho do agregado familiar ou estado. Podem seguir-se questões que se prendem com comportamentos, estilos de vida, utilização dos tempos livres, interesses, grupos de referência, como estilos devocionais, procura de formação religiosa, envolvimento em atividades de voluntariado, entre outros. E pode não ser preciso, para este trabalho, um processo sofisticado. O marketing é frequentemente uma questão de intuição, de capacidade de ver, mesmo o que não está explícito, o que ainda não foi proferido. Lucas diz que Jesus percebeu os raciocínios dos escribas e dos fariseus, ainda eles deviam estar em pleno processo de elaboração de ideias.

Com os diferentes grupos em mão, há que adaptar da melhor maneira a forma de comunicar, desenvolvendo programas para que se retire o maior fruto possível deste encontro.

Olhando mais especificamente para uma determinada mensagem, deve começar-se por determinar como se chama a atenção. E, neste mundo de abundância de mensagens, só aquelas que ‘fazem a pessoa parar’ poderão passar a uma fase de perceção do seu conteúdo. Quer dizer, a reflexão só vem depois.

Ou dito de outra maneira, vamos fazer parar para aprender a avançar.

Madalena Abreu
(Docente de marketing no Instituto Politécnico de Coimbra, autora do livro “Marketing Religioso”)

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