sábado, 19 de fevereiro de 2011

Nova linguagem para dominar o mundo


"Governance", "partner", "gender", "saúde reprodutiva" são alguns termos de um novo vocabulário utilizado nas instituições internacionais, substituindo conceitos como "governo", "esposo(a)", "homem/mulher", "anticoncepção".

Isso, combinado com uma visão extremista da "não-discriminação", tornou-se uma ferramenta utilizada para impor ideologias contrárias ao pensamento católico e que acaba incidindo em nossa vida diária; e quando o percebemos, já pode ser tarde demais.

Este foi o tema central da conferência de Dom Silvano Tomasi - "O poder da palavra. Verdade e ideologia nos organismos internacionais" -, realizada ontem em Roma, na sede do Centro Internacional de Comunhão e Libertação.

O problema foi exposto pelo próprio arcebispo Tomasi, núncio apostólico e observador permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Genebra, e pela professora de direito constitucional na Università degli studi di Milano-Bicocca, Marta Carabia. O evento foi moderado pelo diretor do Centro Internacional, Roberto Forlan.

"Genebra é um lugar onde se gera cultura diariamente", afirmou Dom Tomasi, lembrando que lá residem 30 mil funcionários de organismos internacionais, que realizam mais de 9 mil conferências por ano.

Para focalizar o problema, o prelado recordou o pensamento de Bento XVI sobre a ditadura do relativismo: "Uma boa parte das filosofias contemporâneas afirma que o homem não é capaz de conhecer a verdade. E, por conseguinte, o homem que não é capaz disso não poderia ter valores éticos".

Assim, "acaba aceitando, como única referência, a opinião da maioria. No entanto, a história demonstra quão destrutivas podem ser as maiorias", como no caso "das ditaduras impostas pelo nazismo e pelo marxismo".

"Há duas interpretações das experiências humanas - continuou: uma baseada na realidade e outra uma baseada na construção de conveniências de uma realidade desejada. Esta é muito estimada pelos manager das organizações internacionais."

Em contraste, "outras palavras, provenientes da tradição judaico-cristã, são excluídas e tendem a desaparecer: verdade, moral, consciência, razão, pai, mãe, filho, mandamento, pecado, hierarquia, natureza, matrimônio etc."

Ou seja, é "um novo vocabulário, uma mistura", que "representa uma ideologia individualista levada ao extremo e que inspira linhas condutoras dos funcionários da governance global".

"A aspiração das Nações Unidas é criar uma nova ordem internacional e, para conseguir isso, cria uma nova antropologia", como quando se fala de gênero, "não o dado pela natureza, mas o que o indivíduo escolhe".

Assim, "atinge-se a própria estrutura da sociedade no que diz respeito à família", disse.

Dom Tomasi afirmou que a visão tomista, que requer "a conformidade do intelecto com a realidade", é substituída "por um conceito de realidade como construção subjetiva e social, na qual a verdade e a realidade não têm um conteúdo estável".

Assim, a "aliança entre ideologia e pragmatismo é um desafio para a sabedoria cristã, que deve propor sua mensagem de humanismo integral", ainda que, a longo prazo, disse Dom Tomasi, "não se poderá subestimar ou simplesmente ignorar o realismo antropológico da tradição cristã".

O moderador então perguntou sobre quem trabalha nessa linha de afastamento: "São homens malvados que se reúnem à noite, como nos filmes de James Bond?".

Dom Tomasi afirmou que este é um processo muito complexo, "que vai além dos próprios protagonistas". E o problema surge precisamente porque, devido ao relativismo, com uma linguagem ambígua, as pessoas buscam "conclusões e tentativas para chegar a um consenso, ‘pelo bem de todos', dizem".

No entanto, ele explicou: "Dizer que uma pera não é uma maçã não é uma discriminação".

"E estas soft law - indicou - são transformadas em normas jurídicas. Depois, há uma nova convenção e se torna lei; e se aplica até mesmo em uma cidade pequena."

A professora Marta Cartabia, reafirmando o que foi dito por Dom Tomasi, recordou a importância da linguagem no Direito e como, hoje, o tema "direitos humanos" domina a agenda das agências. E também lembrou o sucesso desse tema, juntamente com o de "não-discriminação", como uma alternativa condividida sobre o relativismo.

Assim, com este conceito, visa-se a "criar uma moral superior. Além disso, usa-se o naipe dos direitos humanos como um ás na manga e aqui o dissenso se torna impossível." E isso se transforma em "um atalho sedutor para grupos que não conseguem encontrar aprovação em espaços normais da política", afirmou.

Depois, existe a ambiguidade da linguagem, desde a Conferência de Pequim, com a "discriminação de gênero", que não teria a ver com um fato biológico, mas apenas com a interpretação de um papel que a pessoa quer protagonizar.

Nesta linha, recordou como, hoje, na Espanha e na Alemanha, "podem solicitar uma mudança de sexo garantida pela lei - independentemente das características físicas -, com um procedimento tão banal como ir a um cartório".

E se perguntou: "Como se pode defender a mulher, se o papel é apenas optional?".

"Ainda que às vezes isso não pareça frustrante, é essencial mostrar a mentira", especialmente "se podem ser usados caminhos positivos." E visto que "essa ideologia se separa da realidade", concluiu que "provavelmente a única via transitável é citar a experiência como um argumento válido".

fonte ZENIT

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