«A comunicação eclesial bem realizada poderá servir de modelo ético para o atual mundo do jornalismo», afirmou o P. Federico Lombardi, SJ, porta-voz da Santa Sé, durante a sua intervenção na Assembléia Anual da CEMCS (Comissão de Meios de Comunicação Social da Conferência Episcopal Espanhola).
Este modelo ético caracterizar-se-ia por uma informação que se refere ao homem na sua integridade, livre de interesses «mundanos», que busca a paz e a reconciliação e que atende às necessidades dos povos mais desfavorecidos e marginalizados dos sistemas informativos mundiais.
«A missão fundamental da Igreja é comunicar o anúncio do Evangelho com todos os meios ao seu alcance», explicou, razão pela qual a comunicação para o mundo cobra "tanta importância ou mais" que a comunicação interna na própria Igreja».
Para isso é necessário, acrescentou, estar atento ao «que acontece no mundo actual» para «dar uma resposta».
«Não podemos pensar numa comunicação católica separada da comunicação profana, mas trata-se de ver o homem e os seus problemas na perspectiva do Evangelho. Não nos interessa apenas a vida da Igreja, mas a de toda a humanidade, com os seus problemas de desenvolvimento, de justiça, de paz etc.»
Neste sentido, explicou, «o Papa é para nós o principal comentarista da situação do mundo actual, de modo indirecto através de seus ensinamentos e de modo directo através de seus pedidos e avaliações em relação ao bem da pessoa e da sociedade».
A verdadeira comunicação deve oferecer «uma visão da realidade que não exclua Deus», explicou, e advertiu sobre a conveniência de «não dividir a informação entre o sacro e o profano, mas mostrar que as motivações morais e religiosas são parte essencial do mundo da vida».
«Num mundo tão caótico como o nosso, um dos serviços que devemos realizar é o de ordenar o modo de ver os acontecimentos, distinguir o que é verdadeiramente grave e importante e o que o é menos», acrescentou.
Guerras esquecidas
Um dos serviços que a comunicação eclesial está levando a cabo, assegurou o P. Lombardi, é mostrar ao circuito informativo mundial notícias dos países mais pobres e das guerras esquecidas pelos sistemas informativos mundiais.
Trata-se, explicou, de prestar «um serviço à justiça, respondendo ao desequilíbrio existente entre Norte e Sul na informação mundial», particularmente «aproveitando a possibilidade que a Igreja tem de dar uma visão mais justa dos problemas graças à sua presença capilar e próxima das pessoas».
Segundo explicou o porta-voz da Santa Sé, um estudo recente em Itália demonstrou que a informação que a Rádio Vaticano oferece sobre o terceiro mundo «é superior inclusive à soma de todos os canais da RAI (Televisão pública italiana)».
A comunicação cristã «pode prestar um grande serviço à paz, favorecendo a compreensão e o diálogo entre as diversas posições e povos». Para isso, é fundamental, declarou, «saber estar com paciência nas tensões, inclusive com o risco de ser criticado», utilizando «sempre com decisão uma linguagem respeitosa».
«Na minha experiência na Rádio Vaticano, aprendi quão importante e ao mesmo tempo difícil é ajudar os que vivem na própria pele um conflito, como o dos Bálcãs, que envolveram pessoalmente muitos dos nossos redactores de diversas equipas linguísticas».
Os meios de comunicação católicos, afirmou, «não devem dar somente uma informação parcial dos governos envolvidos, mas oferecer sempre a voz da Igreja que se situa acima das partes e continua exortando ao diálogo, à reconciliação e à paz».
«Os instrumentos da comunicação católica são essenciais para a construção da comunicação cristã e da mais ampla comunidade humana. A comunicação para a comunhão converteu-se para mim num lema persistente: trata-se de falar para unir e não para dividir.»
Dizer sempre a verdade
Em relação à forma de comunicar a informação eclesial, o P. Lombardi insistiu na necessidade de «usar uma linguagem clara, simples e compreensível». «Se não o fazemos, não podemos queixar-nos de que depois se façam interpretações parciais ou errôneas da posição da Igreja», advertiu.
Por outro lado, afirmou que na comunicação eclesial «deve-se dizer sempre a verdade, ainda diante de perguntas difíceis». «A verdade é um ingrediente fundamental da chamada ‘comunicação de crise’, quando se é atacado por escândalos ou erros. Quando uma pergunta merece uma resposta, deve-se dá-la sem fazer esperar».
«O mundo atual oferece à Igreja muitas oportunidades que deve enfrentar com serenidade e entusiasmo – concluiu. É verdade que há grandes poderes informativos diante dos quais sentimo-nos pequenos e pobres, mas também é verdade que a Igreja tem uma grande vitalidade e que está perto da vida real das pessoas.»
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