domingo, 14 de setembro de 2008

Uma doença chamada “Beleza”


“Fazer para ter, ter para consumir mais, conseguir mais para aparentar uma imagem melhor.”

Livro: Agonia do homem libertário
Autor: Aquilino Lorente

Sempre gostei de ser uma pessoa atenta ao mundo. Ler livros e revistas, navegar na Internet, ver televisão… Mas cada vez mais tenho dificuldade em encontrar alguma coisa de qualidade ou de interesse.
Na imprensa sempre a mesma coisa: a exposição de mulheres seminuas com corpos cadavéricos, o constante incentivo à compra de produtos LIGHT e o apelo àquela que eu chamo a doença do século: o consumismo.

Explico,

Hoje em dia vive-se na ditadura da beleza: as mulheres são transformadas em objectos que desfilam em roupa que ninguém vê ou compra e tentam servir de modelo (modelo que na realidade não o é, porque não vejo na rua ninguém parecido com essas pessoas) para milhões de pessoas que, mais tarde ou mais cedo, ficam reféns por não serem iguais (só se passarem fome e tiverem bons patrocinadores) e amordaçam a sua liberdade, matam o seu bem-estar e a destroem a sua auto-estima por não se aceitarem tal como são.
Cada vez me convenço mais de que em nome do lixo que anda por ai em alguma comunicação social as pessoas trocam a sua felicidade pelo esforço de tentarem ser “belas exteriormente”, não percebendo que devemos amarmo-nos tal como somos.

Ligth é mais uma palavra maldita, hoje em dia politicamente correcta, utilizada com a intenção de vender produtos de menor valor energético e que tem como objectivo atingir uma boa linha. Esses produtos estão por todo o lado: nas colas, nas manteigas, nos queijos, no café sem cafeína ou até na cerveja sem álcool.

Hoje em dia o Homem é um ser transfigurado, que procura cada vez mais mostrar o ter e nem sequer se preocupa com o ser…sim, tal como os produtos LIGHT!

Para o homem que se deixa conduzir pelo consumismo e pela publicidade massiva (que cria na maior parte das vezes falsas necessidades) o que importa é mostrar aos outros que se tem um estatuto, mas na verdade, na maior parte dos casos, interiormente evidencia-se uma debilidade, uma fraqueza e uma carência extremas, bem como a existência de um grande vazio moral, mesmo que materialmente possam ter quase tudo.

Com certeza, tal como o amigo leitor, eu também tenho amigos Light e sempre que saio com alguns deles é lamentável assistir àquela 'doença' em que tudo é plástico: as compras, a beleza e as marcas, num autêntico esbanjamento para dar a ideia do triunfador, do 'heroizinho' que tem êxito, prestigio social e, sobretudo, dinheiro… muito dinheiro.

Muitas vezes tento trocar alguns diálogos com eles, mostrar que a vida não é só isso, que há valores, que há espiritualidade, mas a resposta é quase sempre a mesma: “Cláudio, não me venhas com essa conversa de treta da igreja, isso não me interessa, quero é ter boa vida, ter qualidade, quero curtir...”, não percebendo que, mais tarde, correm grandes riscos de serem reféns do estilo de vida actual que levam.

Sou optimista por natureza, mas a realidade é que a doença da beleza e do egocentrismo é algo que está cada vez mais centrado nas pessoas, na sua personalidade e no seu corpo. As pessoas vivem de preferência para construir a imagem exterior e rejeitam valores e princípios e quando questionados sobre questões transcendentes rejeitam pura e simplesmente esse assunto.

Estará tudo perdido?

Quero acreditar que não. Tem que se começar por dar primazia às pessoas e àquilo que elas são. Dar dignidade, dar mais liberdade, viver liberto daquilo que materialmente temos e deixarmo-nos de preocupar com o que os outros pensam.
Perceber definidamente que a aposta tem que ser no interior e que não vale a pena ser como aqueles bolos todos bonitos por fora e que à primeira dentada notamos logo que não tem creme nenhum.

A vida é simples. Todos somos seres humanos especiais e únicos e temos um lugar insubstituível neste mundo, que tem que ser mais solidário, fraterno, menos consumista e principalmente mais humilde. Se assim for, esta nova prisão que é a doença do consumo e a ditadura da beleza poderá acabar, já que na verdade as pessoas valem por aquilo que são e não por aquilo que aparentam ser ou possuir.

Cláudio Anaia
(Militante da Justiça e Direitos Humanos)
www.relances.blogspot.com

4 comentários:

Anónimo disse...

Mais um excelente artigo de um excelente amigo e grande homem chamado : Cláudio Anaia

Anónimo disse...

Este texto confirma aquilo que uma vez ouvi o Cláudio dizer : " O consumo e as aparências são as principias doenças do século."

Anónimo disse...

Ora Viva, este Cláudio Anaia aparece em todo lado. Mas sempre com fibra e qualidade. A prosa como sempre ao melhor nivel.

Anónimo disse...

Este Cláudio Anaia aparece-me em todo lado. Mas sempre com fibra e qualidade. A Prosa em si como sempre ao melhor nivel.